domingo, 24 de abril de 2016

Cientistas varrem céu para entender teia cósmica de energia escura

Depois da provável detecção de ondas gravitacionais, anunciadas no último mês de fevereiro, a física pode ter ficado um pouco mais completa. Por outro lado, uma estranha energia, que constitui quase 70% do Universo –e que tem por característica "anular" a gravidade– ainda permanece quase totalmente desconhecida.

O nome é energia escura e não ainda existe uma maneira de detectá-la diretamente –ela não emite partículas ou luz, pelo menos não da forma como conhecemos.
Conhecê-la, pois, é o objetivo da pesquisadora Flávia Sobreiro, do Instituto de Física Teórica da Unesp e de muitos outros cientistas no mundo.
Com tanta abundância no Cosmo, ela não poderia "não fazer nada". A ideia foi batizada e começou a ganhar força em 1998, quando foi descoberto que o universo está se expandindo de forma acelerada.
A medição histórica viu que uma supernova (explosão de uma estrela moribunda), estava mais distante do que se imaginava. Especialmente em física, contra dados, não há argumentos. A teoria que explica o Universo tinha que ser atualizada.
Foi um baque para a teoria do "Big Crunch" –até então se pensava que o Universo, em um dado momento, por causa da gravidade, "implodiria".
Alguns insights sobre a natureza dessa energia bizarra:
1) Ela seria uma propriedade do espaço vazio (que não seria tão vazio assim);
2) Ela poderia ser composta de partículas "virtuais", que surgiriam e desapareceriam muito rapidamente;
3) Uma energia dinâmica que permeia todo o Universo, mas que, por acaso, tem um efeito oposto ao da energia "convencional".
A melhor ideia até agora para tentar tirar uma casquinha informativa da energia escura foi a varrer o céu em busca de galáxias, e tentar medir a distância entre elas.
Esse é o tema de pesquisa de Flávia. Junto com outros colaboradores, ela busca "criar formas probabilísticas e estatísticas para explorar simultaneamente várias imagens observadas e criar mapas de galáxias cada vez maiores e mais precisos".
A energia escura seria a responsável pela distribuição das galáxias no universo. "Vistas de longe, galáxias são agrupadas em filamentos que se cruzam e se conectam rodeados por grandes vazios. O tamanho desses filamentos e o vazio entre eles são influenciados pela energia escura", explica Flávia.
O projeto ao qual Flávia está filiada é o DES, Dark Energy Survey (busca de energia escura, em tradução livre). Que vai estudar um oitavo do céu.
A meta é que daqui a dois anos, para quando está previsto o fim da varredura, haja um mapeamento de 300 milhões de galáxias, 30 mil aglomerados de galáxias, e 2.000 supernovas. Para isso, os físicos e astrônomos dispõem de uma supercâmera de 570 megapixels acoplada a um telescópio de 4 metros de diâmetro localizado no Chile.
"A análise de dados do DES certamente irá trazer contribuições que irão mudar a maneira como interpretamos o Universo. Esperamos encontrar dicas de como projetar futuros experimentos para melhorar nossa compreensão sobre as leis da física", afirma Flávia.
Apesar da semelhança no nome, o conceito de energia escura e de matéria escura são bem diferentes.
A matéria escura ocupa vazios e exerce gravidade –o que é observável, por exemplo quando ela altera a trajetória da luz. Ela, que ocupa 27% do Universo, porém, também está longe de ser totalmente compreendida pela ciência.

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